No mês do 8º aniversário da RoomsCo, entrevistamos a CEO Daniela Espinheira, que mostra como o seu percurso a levou à criação da empresa. Fala de todos os desafios enfrentados ao longo dos últimos 8 anos e reflete sobre o estado atual das viagens corporativas. Sempre com determinação, a CEO da RoomsCo mostra as maiores lições que aprendeu como empresária.
1. A Daniela, antes de criar a RoomsCo, trabalhou em várias empresas. Quando é que decidiu ir trabalhar para uma empresa da África do Sul?
Foi uma oportunidade que surgiu via LinkedIn no final de 2010. Nessa altura em termos de carreira, ou eu saía do país, mas continuava a trabalhar para a mesma empresa já que era uma multinacional ou então mudava para outra empresa, preferencialmente fora de Portugal. O convite surgiu nesse período e pouco tempo depois eu decidi aceitá-lo e fui para a África do Sul.
2. O LinkedIn acabou por ser então essencial neste seu percurso. Qual a sua opinião sobre a importância desta rede atualmente?
Em 2010, o LinkedIn não tinha tanto spam como agora, mas eu continuo a achar que é uma ferramenta importante. Como tal, acho que deve ser usado para podermos mostrar o nosso percurso profissional, o que fizemos até à data, o que atingimos em termos de resultados em cada cargo que ocupamos, etc. Numa das conversas que tive mais tarde com o CEO da empresa para onde acabei por ir trabalhar na África do Sul, acabei por perceber que eu tinha sido uma das opções para Operations Managers por ter o meu perfil do LinkedIn bastante completo o que lhe permitiu ter uma visão mais alargada quanto aquilo que eu fazia e poder perceber que era de facto aquilo que ele procurava naquele momento.
3 Quando é que decide criar a RoomsCo? O que a levou a essa decisão?
Na empresa na África do Sul fizemos uma restruturação completa da empresa e ao mesmo tempo criamos uma nova marca completamente independente da que já existia no momento. Exportamos essa marca para outros mercados e com sucesso. Foram anos muito intensos onde aprendi bastante e por isso agradeço muito por me terem feito o convite para ter ido. Ao sairmos da nossa zona de conforto somos deparados com situações que somos obrigados a reagir e percebemos que afinal de contas não é assim tão difícil como quando imaginávamos na nossa cabeça.
A decisão de criar a RoomsCo é tomada no momento em que considerei que estavam reunidas as condições necessárias para começar o meu próprio negócio. O projeto que tinha em mãos era um projeto completamente focado no B2B enquanto que a maioria do meu percurso profissional tinha sido maioritariamente B2C. Avaliados outros elementos pessoais, a decisão passou então por regressar à Europa.
Quando criamos a RoomsCo fizemo-lo inicialmente em parceria com uma empresa irlandesa que nos apoiou com a parte tecnológica enquanto que explorávamos os mercados de língua de expressão portuguesa e espanhola (em termos de clientes) em exclusivo, portanto pareceu-me razoável que sendo eu portuguesa e tendo estado fora nos últimos anos, a empresa ficasse em Portugal, podendo vir a expandir-se mais tarde para outros países.
4. A RoomsCo já tem 8 anos. Na altura em que abriu, em 2013, vivia-se uma crise financeira em Portugal. Porque decide abrir quando a maior parte dos empresários procuravam oportunidades no exterior?
A crise financeira fez com que as empresas começassem a abrir os seus horizontes, explorando outros mercados, nomeadamente os internacionais, pois a demanda nacional não era suficiente. Infelizmente, algumas empresas encerraram devido à situação económica que se vivia, mas aquelas que se mantiveram ativas, tiveram que se adaptar à nova realidade, sendo que muitas delas acabaram por optar por se especializar em algo que faziam realmente bem. Quando decidi abrir a RoomsCo em Portugal foi a pensar nas empresas nacionais que, embora tivessem a necessidade de viajar para expandirem os seus negócios e, consequentemente precisavam de alojamento para hospedarem os seus colaboradores, não tinham uma política de gestão de viagens. O que rapidamente constatei na época foi que muitas delas usavam métodos de reserva que, na sua maioria, não lhes estava a garantir a melhor tarifa disponível nem eram os mais eficientes. Com a implementação de uma medida deste tipo, e desde que bem gerida, podiam sem dúvida poupar bastante dinheiro anualmente.
5. Que grande diferença encontra no negócio entre a sua criação e o momento atual? Quais os maiores desafios que enfrentou ao longo destes 8 anos?
Em termos de mercado, a grande diferença que sinto é que no início, quando visitávamos as empresas e fazíamos o diagnóstico das suas necessidades de alojamento, a maioria não tinha a noção poupança. As empresas ainda não consideravam que implementar uma política de gestão de viagens as podia ajudar na redução dos custos, na otimização dos recursos e assim melhorar o seu desempenho. A maioria marcava os hotéis diretamente via email ou online no próprio website do hotel sem ter o cuidado de verificar se a tarifa que estavam a reservar seria a mais vantajosa.
Não tenhamos ilusões: as viagens corporativas são necessárias; é um facto. No entanto, também é sabido que estas deixam de fazer sentido se o empresário não tiver o retorno pretendido ou, por outro lado, comprove que as viagens foram um gasto e não um investimento.
Apesar da sua relevância, as viagens corporativas têm que seguir determinadas normas para que sejam efetivamente produtivas; daí que seja essencial que as empresas possuam uma política de viagens corporativas bem definida e adequada à sua realidade, para que não coloquem em causa nenhum departamento da empresa ou até mesmo o exercício da sua atividade. Para cada viagem é necessário traçar um plano de viagem devidamente ajustado.
O maior desafio foi posicionarmo-nos no mercado como uma empresa totalmente vocacionada para o mercado corporate, garantindo aos nossos clientes as tarifas mais competitivas, criando dinâmicas de poupança bastante significativas. Desta forma, não só ajudamos as empresas a ter acesso às melhores tarifas do mercado, como também garantimos que toda a viagem, em termos de alojamento, segue um plano. Ao fazermos isto, acabamos por garantir rácios de produtividade superiores, já que os colaboradores não necessitam de se preocupar com os detalhes da estadia.
6. Qual a importância das viagens de negócios no setor corporativo?
O mundo está cada vez mais global (já ouvimos isto centenas de vezes!). Na última década, foram vários os países europeus a apostar neste sector. Apesar de 2020 ter sido um ano horrível para as viagens corporate, com quebras na ordem dos 90%, as empresas continuam a valorizar os encontros cara-a-cara para fazerem crescer os seus negócios.
Toda a tecnologia disponível não substitui os encontros pessoais, que continuam a ser uma mais-valia para as empresas, para o desenvolvimento dos seus negócios e para os seus colaboradores e como todos nós sabemos há sectores onde as empresas só podem trabalhar no local, não há como fazê-lo online.
7. Para um cliente corporativo, qual a diferença entre ficar alojado num hotel ou numa casa?
Essencialmente o tipo de alojamento reservado depende das características do pedido, nomeadamente do número de pessoas que a empresa quer alojar e da duração da estadia. Por norma para estadias mais longas e com um maior número de pessoas são pedidas casas ou apartamentos, se forem estadias curtas e com 2 ou 3 pessoas pedem hotéis. Esta é a generalidade, no entanto cada empresa tem a sua especificidade.
8. Tendo uma empresa que atua na área das viagens, como viveu a pandemia do Covid-19? Que estratégias implementou para dar a volta à crise que se instalou?
O que eu lhe posso dizer é que uma grande parte dos nossos clientes estão nos sectores que foram considerados essenciais para a manutenção dos serviços mínimos e, nesse sentido, continuaram a procurar os nossos serviços. Houve naturalmente uma percentagem de clientes que não puderam viajar nesse período. Com o decréscimo de pedidos resultante dessa paragem forçada, aproveitamos para tratar de projetos que estavam na gaveta, mas que ainda não tinham sido postos em prática por falta de tempo. Projetos esses mais relacionados com a imagem da empresa (redes sociais, website, blog). Após o primeiro confinamento, os pedidos das empresas que tinham deixado de viajar, foram aos poucos voltando à normalidade, sendo que com o segundo confinamento não sentimos grande impacto no geral.
9. Em oito anos, já viveu momentos bons e outros mais difíceis. Qual é a maior lição que aprendeu como empresária?
Já aprendi várias e acho que ainda tenho muitas mais para aprender. No entanto, partilho aqui algumas:
– Enquanto os clientes perceberem porque é que nós fazemos o que fazemos, em vez do que fazemos, eles continuarão a ser nossos clientes.
– Prefiro mil vezes contratar uma pessoa motivada e ensinar-lhe como se fazem as coisas do que uma pessoa com muitas competências e sem motivação nenhuma.
– Independentemente do lugar que ocupe na sua empresa, aja sempre como um exemplo a seguir.
– Se nos focarmos em nós e tentarmos sempre melhorar, o que vem a seguir é sempre uma cópia, está sempre um passo atrás.
– O objetivo não é chegar a todos, mas sim chegar àqueles que acreditam no mesmo que nós acreditamos.
– Nenhum cliente irá confiar em nós se a nossa equipa não confiar na empresa onde está.
– Sozinhos não somos ninguém.
E podia estar aqui até 2029 a recitar mais…
10. Podemos esperar por novidades para 2022?
Óbvio!