Sempre com uma perspetiva positiva, Pedro Colaço gosta de marcar a diferença todos os dias no seu trabalho. O CEO da GuestCentric, da Great Hotels of the World e da Small Portuguese Hotels olha para as dificuldades como um desafio. Procura sempre reagir às mudanças do mercado de um modo ágil e rápido.


1. O Pedro Colaço é CEO da GuestCentric, da Great Hotels of the World e da Small Portuguese Hotels. Imaginava-se, nesta etapa da sua vida, estar à frente destas três empresas?

Confesso que não. Imaginava abraçar um projeto de cada vez mas, na vida, as oportunidades surgem inesperadamente. A GuestCentric foi uma empresa pensada de raiz, com um plano de negócios muito estruturado. A Great Hotels of the World foi uma aquisição de oportunidade. E a Small Portuguese Hotels foi um projecto que nasceu como resposta à pandemia.


2. Como é que começou o seu percurso de empreendedor e quais as maiores dificuldades que encontrou?

A minha saída da Siemens para a start-up Castle Networks/Unisphere resultou da minha vontade de trabalhar de uma forma completamente diferente: implementar as decisões tomadas e ver os resultados alcançados. Um trabalho mais “hands-on”, que é muito difícil num ambiente corporativo de uma multinacional. Foi no eco-sistema de Boston/New Jersey que aprendi o que é construir uma empresa apenas com excelentes profissionais, com boas ideias. Daí a criar uma empresa de raíz foi só um passo.

O maior desafio para mim foi o regresso a Portugal, onde o ambiente empresarial é, por natureza, conservador e avesso ao risco; com o eco-sistema das start-ups na sua infância – por exemplo, ninguém abraçava a visão que para construir grandes empresas é preciso definir a sua trajetória e financiar o seu crescimento.


3. Como chegou à indústria do Turismo?

Foi completamente casuístico. O meu sócio Filipe Machaz e eu, após termos construído empresas nos Estados Unidos e na Irlanda, estávamos à procura do “next step”. Avaliamos vários setores económicos. O Turismo surgiu muito naturalmente porque a família do Filipe tinha muitos contactos no setor. Nós já tínhamos identificado a necessidade de tecnologia para hotéis, a validação foi rápida e criámos a GuestCentric.


4. O que é para si ter sucesso profissional?

Sucesso profissional é acordar e não hesitar em ir para o escritório (mesmo que o “escritório” seja a mesa da cozinha durante a pandemia). É sentir que fazemos a diferença todos os dias. É criar uma marca que atrai e motiva uma equipa de excelentes profissionais que aí fazem a sua carreira. E, não menos importante, é ter uma carteira de clientes satisfeitos, parceiros e para quem trabalhamos com gosto e empenho.


5. A Small Portuguese Hotels é uma iniciativa centrada em Portugal. Que particularidades encontra no nosso mercado nacional?

O mercado hoteleiro português é composto por pequenas e micro- empresas familiares. Temos ótimos hoteleiros, inovadores a nível mundial. Neste segmento de empresas, a gestão é normalmente ótima no serviço aos clientes mas enfrenta enormes dificuldades ao nível das vendas e do marketing digital.

É aí que a Small Portuguese Hotels se posiciona, permitindo que as pequenas unidades tenham acesso a vendas e tecnologia de ponta, alicerçada numa equipa comercial experiente, que constrói parcerias para aumentar a notoriedade da marca SPH e dos seus mais de 140 membros, maximizando as vendas no mercado interno.


6. É impossível não referirmos a pandemia do Covid-19 e as profundas mudanças que tem provocado em toda a sociedade. O turismo tem sido uma das áreas mais afetadas. Que estratégias têm usado para superar esta adversidade a nível profissional? E que conselhos dá aos empresários que passam por maiores dificuldades?

Nas nossas empresas, acreditamos que temos que estar prontos para reagir às mudanças do mercado, de forma ágil e rápida. Mas para termos sucesso, temos que estar perto dos nossos clientes e das nossas equipas, e sermos transparentes e honestos com todos.

A pandemia não foi exceção. Lançámos logo medidas de apoio aos clientes e realizámos reuniões regulares – embora virtuais – com todos, para acompanhar a sua realidade. Paralelamente, preocupámo-nos muito com as condições de trabalho e o bem-estar dos nossos colaboradores – tanto físico como mental, com inúmeras iniciativas de team building e de formação. Juntos, atravessámos esta verdadeira tempestade.

O primeiro projeto que lançámos, em plena pandemia, foi o RoomsAgainstCovid.com – uma plataforma pro bono para ajudar profissionais de saúde a protegerem os seus familiares, hospedando-se gratuitamente, em apartamentos de alojamento local. Um enorme agradecimento ao Tiago Araújo da HiJiffy, que nos desafiou para este projeto, ao Eduardo Miranda da Associação para o Alojamento Local em Portugal (ALEP), que disponibilizou os alojamentos e ao Luís Araújo do Turismo de Portugal, que comparticipou nos custos dos alojamentos.

Em relação ao nosso negócio, a pandemia trouxe um fator novo: as restrições às viagens. Até lá, as viagens estavam cada vez mais acessíveis e facilitadas, com as companhias aéreas Low Cost; o espaço Schengen que permite viajar internacionalmente sem entraves; e a liberalização dos vistos para as Américas ou para a Ásia. Com as restrições às viagens devido ao Covid19, tudo isso mudou.

O desafio foi virar para o mercado interno, daí o nascimento da Small Portuguese Hotels para os nossos clientes portugueses.

Em relação a conselhos, apenas que aproveitem os anos bons do negócio, para poupar – como dizem os americanos “save for a rainy day”. E evitar o endividamento excessivo, porque o contexto macro é muito mais incerto do que parece.


7. Como define o atual viajante de negócios?

Curiosa esta pergunta, porque até ao momento ele é inexistente. Estou a fazer esta entrevista no avião a voltar de Berlim duma conferência. Eu diria que o viajante de negócios não mudou: é o mesmo de antes da pandemia. Valoriza conveniência, preço e serviço. E está ansioso por poder voltar a viajar a um bom ritmo.


8. Os hotéis têm tido capacidade de resposta a este perfil de viajante? Em que poderiam melhorar a um nível geral?

Penso que o perfil da viagem de negócios mudou significativamente. O viajante de negócios quer uma componente forte de lazer. Os hotéis hoje têm de ser fun, têm de ter áreas comuns vivas, onde seja fácil trabalhar e pedir um café, mas que se transformem em algo mais animado à noite.


9. O mundo mudou, descobriu-se o teletrabalho e passaram a realizar-se mais reuniões online. Acredita que esta realidade veio para ficar ou as viagens de negócios vão retomar novamente com intensidade?

Penso que no curto prazo as viagens de negócios serão reduzidas, pois é o orçamento de viagens que está a ser utilizado para pagar a tecnologia que permite o teletrabalho.


10. Quem é o Pedro Colaço, para além de CEO destas três empresas?

Casado, Pai de três filhos, algo reservado e um foodie inveterado – sou capaz de fazer uma viagem só para ir a um restaurante. Gosto de me divertir no trabalho, mas também de aproveitar o tempo livre para estar com os amigos.


11. Quais são aquelas viagens que pretende realizar, mas tem vindo a adiar por falta de tempo?

Tenho apenas duas viagens de sonho que ainda não consegui fazer: ir à Patagónia ver o gelo azul e viajar até ao círculo polar ártico para ver as auroras boreais.


12. Qual é aquele item essencial que não dispensa na sua viagem?

Escova de dentes?


13. Finalmente, se pudesse voltar atrás no tempo, que conselho daria ao Pedro Colaço quando iniciou a sua vida profissional?

Não hesitar. Há sempre tempo para corrigir os erros.


— Entrevista por Daniela Espinheira